Rio Arinos Fazenda Tauá
Por: Romulo José FerrazRio Arinos Fazenda Tauá
Aventuras de Rominho
Fazenda Tauá, Rio Arinos
Introdução:
Fazenda Tauá, localizada margem direita do Rio Arinos, onde na margem esquerda encontrasse a foz do Rio Claro com o Rio Arinos. Esse encontro das águas do Rio Claro com águas do Rio Arinos, não se mistura, sendo que a água do Rio Arinos é escura, enquanto que a água do Rio Claro é de uma clareza total, sendo possível ver peixes nadando a cinco metros de profundidade. São muitas as histórias que me envolvo com o Rio Arinos, a começar pela viagem de quando a família Ferraz, que é a minha família, e que só no Rio Arinos foi uma viagem de quatros dias até chegar em Porto dos Gaúchos. Isso ocorreu no ano de 1957, onde a família Ferraz foi à oitava família a residir nessa posição geográfica que era então completamente selvagem, sendo que o local era somente uma abertura na floresta com alguma casa de madeira serrada no lugar, e que o vizinho mais perto era nada menos que 500 quilômetros.
Capítulo I
Empreiteiro em abertura de Fazendas:
Era 1969, até então, já tinha percorrido nada mais nada menos que 12 anos de Mato Grosso. Nesse espaço de tempo, vivi em plena aventura, a cada passo de minha vida: Fui seringueiro, fui uma espécie de Tarzan, Gesse James, defensor dos oprimidos, catequizador índios, fui revolucionário, e nessa aventura, empreiteiro de formação de fazendas afim de transformar a mata nativa em invernadas, e trabalhava também em construções de pontes de madeira, construção de barcos de madeira e transporte de madeiras do mato para a sede da Fazendas. A quantidade mínima de pessoal trabalhando para mim e meu irmão Paulo era uma média de 200 homens.
Barra do Rio Claro com Rio Arinos
Um comentário:
Na década de 60 para 70 o lado esquerdo do Rio Arinos, uma Colonizadora do Sul do Brasil, fez a imigração de centenas de famílias do Sul para essa colônia por apelido de Gleba Massapé, hoje zona rural do município de São José do Rio Claro. Que para chegar a cidade, foi com sacrifícios dos primeiros, pois a região era terrível conviver com a peste malária, sendo que a morte era constante com a malaria, a prova esta no cemitério da barra do Rio Claro com muitas cruzes.
Capitulo II
A Fazenda Tauá de propriedade dos Junqueira & Vilela de Minas Gerais, precisava ser aberta, pois até essa data, era só floresta, e fez um contrato com meu irmão para a formação da Fazenda.
Pois bem, em 1968, em uma só temporada fizemos mais de 2000 alqueires de derrubada para a Camargo Correia, trabalhando com mais de 400 homens, e como o contrato da Camargo tinha terminado, agora era a vez da Fazenda Tauá.
Foi então que entramos com 150 homens para o serviço, que era um contrato para derrubar 400 alqueires de matas.
Transportando pessoas para o serviço
Para executar esse tipo de serviço, teria que dividir o pessoal todo em grupos, de quando muito oito homens em cada time, e a área a ser derrubada teria que ser sub-dividida em tamanho máximo de 10 alqueires. Também cada time tinha o seu acampamento na beira do Rio Arinos e era responsável pela sua cozinha, em que nós empreiteiro tinha um barracão geral e fornecia as mercadorias que era pagas pelos trabalhadores no fim da empreitada. Hoje um alqueire de mata para ser derrubado o preço é em torno de mil reais, só que hoje tudo é mais fácil por ter moto-serra, e nessa época essa maquina ainda não existia, era só machado e foice.
Pois bem, esses 150 homens foram divididos em mais ou menos 25 grupos, e cada grupo fez um barraco na beira do rio Arinos. Era uma frente de rio de 2000 metros então de cada 80 a 100 metros tinha um barraco.
Era ate bonito quando a gente passava de tardezinha com o barco voadeira pelo rio, o pessoal todo com uma vara na mão pescando e inocentemente sem saber da conseqüência que viria.
Capítulo III
Peste malaria
A febre da malária depois que o mosquito contaminado pela peste, pica o individuo, ainda leva uns dias para se manifestar a doença, e nós estávamos em mês de fevereiro, tempo das enchentes e muita chuva, época propicia para a propagação da malaria.
Naturalmente que tínhamos os remédios tudo em quantidade, mas o enfermeiro era a gente mesmo, e com 10 dias já começou a aparecer alguns homens com a malaria. Mas a malaria que até então eu conhecia, era aquela malaria com uma cruz, que se curava com quatro comprimidos de aralém, e com isso medicava o paciente com esses medicamentos e ele voltava para o acampamento na esperança de estar curado. Mas não, continuava doente, e pior, por ele estar no acampamento na beira do rio onde o mosquito era intenso, bastava um mosquito picar o doente e picar outro sã, já o contaminava.
E com isso foi a propagação da peste e com mais uns dias foi uma calamidade, 150 homens, todos pegou a malaria, e era uma espécie de malaria que com duas febre deixava a pessoa da grossura de um palito.
Aí veio as conseqüências, a cada momento chegava um do mato ardendo de febre, e precisava ser medicado. Estávamos isolados, as poucas pessoas que era moradores do outro lado do rio Arinos Gleba Massapé, já tinha falado que a malária dali que só era curada no hospital na base de soro.
Acampamento
E os doentes foram chegando, o barracão geral tinha 50 metros de comprimento e foi ficando lotado de redes penduradas com doentes, e o que a gente tentávamos fazer era empregar os medicamentos que hora dispúnhamos.
Nós tínhamos um caminhão, mas estava muito longe dali com meu irmão fazendo transporte de madeira serrada para a serraria, e não tinha nada a fazer a não ser esperar que aparecesse alguém com condução por lá, pois não existia telefone, rádio, nenhum meio de comunicação.
Eu tive o capricho de contar a noite quantas injeção de aralém apliquei num só dia, 70 ampola.
Tanto medicamento e nada de resultado positivo, pelo contrário, as primeiras mortes foram acontecendo. Não tinha outro jeito a não ser sepultá-los ali mesmo no cemitério do Rio Claro. Não deu problema para nós por trabalharmos quase só com piões rodados, ou seja, homens que só viviam andando, as vezes sem documento nenhum, e que ficavam alojados em hotéis na cidade de Cuiabá, a espera de alguém que pagasse as contas deles, e aí então, nos pagaria no serviço.
Mas o problema foi se agravando até que meu irmão Paulo chegou com o caminhão que na mesma hora embarquei 24 pessoas, os que estavam em pior situação. Mandei que forrassem o soalho da carroceria do caminhão com colchão de capim e foram todos deitados feito porcos, pois não existia outro meio. Todos ficaram internados no hospital de Diamantino-MT. Dali fui para Cuiabá.
uma epidemia terrível, eu sai com esse pessoal, num sábado, e quando foi segunda feira o Paulo levou mais 30 pessoas, aproveitando a carona de um caminhão que apareceu por lá.
De 150 homens, morreram três, e todos foram contaminados com a peste, e todos ficaram desnutridos de uma vez. Até Paulo pegou a malaria preta, (era assim que chamavam esse tipo de malária, por deixar o doente com uma cor preta), só eu que escapei, nunca peguei doença nenhuma.
Conclusão: todos ainda estavam endividado conosco sem condições de pagar e perdoamos as dividas.
Transporte de trabalhadores
Capítulo IV
Nova remessa de gente:
Fizemos um contrato com o proprietário da Fazenda Tauá, Gilberto Junqueira, e teríamos que cumprir, que era roçar e derrubar 400 alqueires de florestas. Fizemos mais contratação de pessoal e começamos a baldear o pessoal, para o serviço. E numa dessa, eu sai com um caminhão com 30 pessoas que fui pegar numa cidade vizinha e Paulo foi com um outro caminhão com 22 pessoas na frente.
Pois bem, Cheguei no porto do rio claro, a noite, 8 horas, e o pessoal do Paulo já tinha sido transportados para a Fazenda segundo alguns seringueiros que ali moravam.
Do outro lado do Rio Arinos, já era Fazenda Tauá, mas o acampamento nosso ficava a 5 quilômetros descendo o rio.
Estávamos preparando para dormir pois o barco só voltaria no outro dia, quando chega por terra um funcionário nosso que era o piloto do barco, e todo afobado foi dizendo:
Pessoas doentes a espera de ser transportado para o hospital
Capítulo V
Naufrágio com 22 pessoas:
Rominho, aconteceu uma tragédia, o barco virou e afundou, com todos dentro, e agora vamos ter que pagar o barco do padre que me emprestou.
Eu disse, não quero saber de barco, quero saber do pessoal, ai ele falou que só alguns conseguiram escapar.
Na mesma hora peguei o meu barco a motor de popa, e mais o baiano que era funcionário nosso e descemos rio a baixo. No lugar que foi afundado, o pessoal que tinha escapado aparentemente estavam ali na margem do rio. Paulo estava entre eles, e foi que ele falou, que o barco bateu numa pedra e o pessoal se assustou e foram todos pro mesmo lado o que acausionou o naufrágio. Também ouve negligencia quanto a quantidade de gente pelo tamanho do barco. Dali saímos com o barco só rodando pela correnteza do rio e mais ou menos 1000 metros vimos o barco enroscado, pois o barco era de madeira e flutuava. De longe com a lanterna só se via o barco, e só quando chegamos é que foi constatar que 12 homens se encontravam segurando no barco, pois nenhum deles sabia nadar.
Mas, mesmo assim morreu um boliviano, que só foi boiar depois de 24 horas, também foi enterrado no cemitério do rio claro.
Depois seguiu normalmente, o tempo critico da malaria tinha passado, evitamos que o pessoal fizessem acampamento na beira do rio, e que evitasse pescar, e que também o Dr Gilberto Junqueira, contratou um enfermeiro e montou uma enfermaria na Fazenda.
A derrubada foi feito sem nenhuma alteração, pois a época perigosa da malária já tinha passado.
O ano todo de 1969 eu trabalhei nessa Fazenda Tauá, pois depois da derrubada de matas veio plantio de capim e também peguei uma ponte de madeira de 40 metros para atravessar o rio Tauá afluente do rio Arinos.
Essa ponte foi meio complicado para fazer, pois o Rio Tauá era fundo e não possuía um bate estaca,
E dessa maneira eu tive que improvisar um método que só tinha ouvido falar, que seria bem assim:
Derrubar uma arvore de preferência garapeira, (madeira que dentro d’água é bem resistente) mais ou menos 0,80m de diâmetros. Teria que cortar toras no mínimo sete metros de comprimento para fazer os travesseiros que ficaria no fundo do rio e servirias para encaixar os quatros pilares confora a figura 1
Figura 1 Ponte sobre o Rio mostrando o fundo
Os espaços de uma coluna a outra foram de (5) cinco metros e o total da ponte foi (40) quarenta metros. Foi demorado por o rio ser fundo e ter que preparar a cama no fundo do rio, com ferramentas manuais como, enxadas, enxadões, picaretas e até serra manual, como serrote, traçador (serra de dois cabos,um em cada ponta). E isso era tudo feito só no fôlego, mergulhava, executava um pouco o serviço e já tinha que vir a tona para respirar. Teve muitas raízes grossas no fundo do rio além de pedras cangas que tinha que quebrar com picaretas
Ponte sobre o Rio Tauá
Para esse serviço eu contratei 10 homens e todos eram paraguaios, bom de machados e bom mergulhador. As madeiras foram derrubas as arvores e esquadrejadas todas no machado, a moda bem antiga mesmo, pois onde estávamos teria que fazer uso só dos braços, tanto para preparar as madeiras como também para transportá-las até a ponte e demorou quatro meses para terminar e essa ponte.Que ainda até a data de hoje ainda esta servindo a Fazenda Tauá, 40 anos e ainda esta de pé, pois as madeiras foram todas escolhidas, arueiras, piquiseiros, itauba, e piuva.
Terminando a construção da ponte, eu resolvi seguir minha profissão de agrimensor e deixei de ser empreiteiro.
Hoje A Fazenda Taua, é uma da mais conceituadas no ramo de pecuária, seus rebanhos deve ultrapassar a 20.000 cabeças de res
Conto Verídico de Rômulo José Ferraz
Rio Arinos Fazenda Tauá
É uma história verídica, baseada na própria vida do autor, fatos ocorridos
pela necessidade de sobrevivência da época, e onde se encontrava.
e-mail: rominho_ferraz@hotmail.com
Eu, Romulo José Ferraz, brasileiro, casado, nacido aos 06 de outubro de 1941 na Cidade de Cachoeiras de Minas-MG, atualmente estabelecido em Cuiabá-MT, sou engenheiro agrimensor e ainda exerço a profissão, sou também poeta mas até agora não assumido, é um robi que tenho a muito tempo, escrever poesias, poemas e contos. gosto de músicas, prefiro as mais crássicas e antiga, pois sou mais a moda antiga.
Fonte Artigos - Artigonal.com - http://www.artigonal.com/literatura-artigos/rio-arinos-fazenda-taua-1355340.html